segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Meu filho, meu algoz


Em meados de 2009, uma das psicólogas do hospital procurou-me dizendo que uma de suas pacientes buscava ajuda espiritual. Disse que ela vivia sob depressão há 28 anos e que acreditava que nossa casa poderia ajudá-la.

Marcamos uma entrevista fraterna.


Há pacientes que são bem práticos e objetivos, explanando seu panorama de dor em poucos minutos, facilitando a brevidade da ação de socorro. Outros, preferem descrever toda sua história detalhadamente, procurando quase reviver cada momento do seu sofrimento. Essas pessoas potencializam suas dores, revivendo a cada narrativa os tropeços do passado, amargurando seus corações a cada lembrança, a cada sentimento despertado. Assim era nossa irmã.

Depois de três entrevistas, conseguimos traçar um quadro do seu problema que resumidamente descrevemos a seguir.

Fátima, nome fictício, foi casada com o amor da sua vida. Homem de princípios, mas infelizmente um alcoólatra. Suas filhas, ainda pequenas, choravam ao ver o pai chegar embriagado, arrastado, ou encontrado caído pelas calçadas. Decidiu dar-lhe um tratamento de choque e lutando contra seu próprio sentimento, tomou a resolução de separar-se, poupando as filhas, na esperança dele, que também a amava, abandonar a bebida em favor da família. Mas não foi o que aconteceu. Após o abandono, entregou-se ainda mais ao álcool, denunciando a fraqueza do seu caráter.

Após quatro meses de separação, encontra uma antiga vizinha, que estava organizando uma festa em comemoração as suas bodas de prata. Embora convidada, relutou em aceitar o convite, porque o filho dessa vizinha, que sempre a cortejou, poderia se aproveitar da sua fase de solidão e carência. Mas acreditando ser dona de sua vontade, foi à festa. Lá encontrou o filho da senhora, que dedicou toda sua atenção, procurando ser companhia agradável, sem se pronunciar em tentativa de aproximação, agindo apenas como amigo atencioso.

Ao final da festa, com a saída dos convidados, sob efeito dos vapores do álcool, numa situação inesperada, aproveitam a solidão de um ambiente reservado da casa e entregam-se a volúpia de um relacionamento incontrolado.

Após o ato, sem que soubessem o que os levou a tal situação, o rapaz pede desculpas pela sua atitude e ela, retira-se, profundamente envergonhada. A final, não foi um ato de amor, antes, apenas um ato sexual sem controle.

Passadas algumas semanas, descobre estar grávida. A notícia chega ao seu marido que, em desespero, atira-se à frente de um automóvel, encontrando a morte imediata.

Fátima leva a gestação de forma angustiosa. Embora fosse contrária ao aborto delituoso, desejava um aborto espontâneo, encerrando a situação desconfortável de perseguição familiar, em especial da sua mãe, que não aceitava a gravidez, exigindo que se retirasse da casa. Seu pai, amigo inseparável, abrigou-a em outra residência, custeando as despesas da família bem como as do parto do filho indesejado.

Com o nascimento do filho, veio a depressão. A criança mostrou-se inteligente e de boa saúde, mas com extrema dificuldade de relacionar-se com a mãe. Hoje ele tem 28 anos, exatamente o tempo da sua depressão.

O marido suicida foi amparado na primeira reunião de desobsessão em nossa casa, desfazendo as vibrações de amor e ódio que ainda o embalavam. Durante o trabalho, nosso benfeitor espiritual disse que o relacionamento que gerou seu filho, foi patrocinado por um espírito cobrador do passado, que desejava colocá-la em condição moral desconfortante, numa época em que gravidez fora do casamento, levava ao banimento da família, resultando na maioria dos casos, em prostituição, quando a mulher não conseguia meios de sustentar-se, vendo-se obrigada a aceitar as propostas dos exploradores dessas almas perdidas.

O que o obsessor não imaginava é que ele mesmo seria atraído ao ventre daquela que viria a ser sua mãe, cumprindo as determinações divinas de transmutação do ódio doentio em amor restaurador.

A partir desse dia, nossa amiga que vivia há 28 anos em depressão, começa vida nova, sorrindo, buscando grupos de relacionamento, vestindo-se e se apresentando melhor.

Deus, na sua infinita bondade, permite que espíritos rotos pela dor, encontrarem a restauração no cadinho familiar, regenerando relacionamentos conflituosos do pretérito.



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